01 - O MAREMOTO (tsunami).
11/06/2003=OUTONO
ESCRITO das
4:00 às 6:00 HS DA MANHÃ
Assim começou; uma praia contornada
pôr um morro, não muito alto uma
formação de areia com vegetação característica a beira mar e depois um tipo de
planície com alagadiços e riachos e aí começava a montanha, essa sim bem alta e
imponente. Junto à praia no meio das arvores uma ferrovia onde passava um
“trem”, maquina de cor vermelha com a pintura escurecida com poucos vagões de
cor marrom, de cima daquela montanha avistava no horizonte olhando para o leste
uma grande cidade, notava-se que havia grandes prédios e a visão do alto era um
espetáculo impressionante e de grande beleza, tudo se via o horizonte e dentro de um balão que no seu interior uma
jovem muito linda com traços perfeitos, rosto calmo e trajava um vestido longo
de cores brancas e azuis claro contornadas com babados. Enquanto o balão seguia
ao sabor dos ventos e em direção oeste, oposto daquela cidade, eu explicava e
mostrava para aquela jovem a beleza daquele lugar, não havia discussão só
diálogo, mas, ela nada falava só ouvia, não disse o seu nome e não cheguei a
ouvir a sua voz, se era bonita ou feia.
O trem com seus quatro vagões seguia em direção àquela vila a beira mar,
levando alguma esperança para aquelas pessoas humildes e pobres, os trilhos da
linha férrea eram destruídos com o meu pisar, simplesmente eram feitos de
areia, a montanha era muito alta e para alcançar o seu topo somente com o balão
e cada vez que subia o horizonte se tornava mais lindo, era o paraíso, o Xangri-Lá. Nela existia uma família
feliz, uma mulher crianças e uma filha de nome CAMILLE, era uma menina feia,
com as maçãs do seu rosto enormes, lábios grandes e tinha um defeito na língua.
Ela não parava de falar, falava, falava e falava e contava historia daquela
vila a beira mar, muitos lindas, sua simpatia a tornava uma menina linda. A
casa dela era feita de areia, não tinha móveis na cozinha uma mesa triangulada
e a porta era tão estreita que para passar era preciso entrar de lado e com
dificuldade e quase não tinha como sair daquela casa. A mãe de Camille
trabalhava muito e fazia comida em um fogão a lenha, tudo era feito de areia, o
lugar chamava-se de Ireland, naquele lugar não notei a presença de homens, só
crianças e mulheres. O mar e a praia eram limpos e quando as ondas arrebentavam
na areia faziam grandes espumas brancas. Camille falava estranho, mas quando a
entendia mencionava que conhecia minha terra, da onde eu teria vindo e que seu
pai estava lá trabalhando, queria registrar aquele lugar tirando uma foto, o
que eu acabava de conhecer, lugar lindo,mas muito estranho e que algo poderia
acontecer e tudo aquilo se acabaria num piscar de olhos. O medo percorreu pelo
meu corpo e pedi para aquela criança tão inocente, Camille, para olhar
fixamente para mim para que eu pudesse decorar seu rosto, ficar gravado na
minha memória, era tão diferente de tudo que se possa imaginar. Quando
novamente olhava em direção ao mar, no horizonte, percorria no meu corpo o
medo, um terror, parecia que o mar estivesse para explodir com nuvens negras ao fundo e parecia que uma onda
gigante brotava-se daquela direção. Passei a noite e dormi naquela casinha
pequena feita de areia, tive uma noite de pesadelo que cheguei a cair cama e
acordei, corri para a cozinha e comecei a gritar para aquela mulher e crianças
para que nós tínhamos que sair correndo daquele lugar estávamos correndo perigo
e tinha que fazer algo para ajudar aquela família, era tudo o que me restava,
tinha que salvá-los. Ao sair daquela casa, as ondas estavam quase chegando na
porta da cozinha, o céu estava cinzento e escuro de dar medo, tudo aquilo,
ondas, praia já não eram mais lindas, tornando-as feias, olhando em volta, onde havia muita gente nada
se via, a pessoas haviam fugido daquela situação de terror e uma calamidade próximo de uma catástrofe . Estávamos atrasados para a fuga,
talvez não daria tempo, mas, teríamos que fugir rapidamente e levar o possível
de alimentos, água, leite para as crianças e tudo estava difícil de se
organizar, eu gritava desesperadamente para aquela mulher , pega os alimentos e
as crianças vamos sair deste lugar, mas, tudo aquilo seria inútil, porque sabia
que só eu salvaria, tinha que fazer algo para salvá-las. Eu, Camille, sua mãe e
as crianças saímos da casa de areia e próximo havia um barranco que possuía
várias arvores e muitos coqueiros, eu ficava para trás empurrando as crianças
que não conseguia subir e sempre com o olhar voltado para o mar. Percebi que a
água havia se recuado da praia o espetáculo era aterrador. Surge no horizonte
uma escuridão que dava medo, lá no fim onde a água do mar encontra-se com o
céu, surgia uma montanha escura, só podia ser uma onda gigantesca de infinito
tamanho. Conseguimos escalar aquela montanha que separava as areias brancas com
o resto da ilha, depois tinha um espaço que possuía casas, casebres, matas,
coqueiros e todo tipo de vegetação e depois uma montanha. Nisso uma pessoa
apareceu com um veículo tipo camionete, sem capota que deu-nos carona e
dirigiu-se por uma estrada de terra íngreme cheia de pedras. No pé da montanha,
na estrada, tinha uma porteira onde um senhor que não mostrava-se temeroso com
aquela situação , entregou uns sacos plásticos
de cor verde para cada pessoa e prosseguimos com a fuga. Tudo tornava difícil,
sempre estava faltando alguém conhecida, eu gritava o tempo todo, para ser
rápido, antes que aquela onda gigantesca nos atingíssemos, chegamos em um
vilarejo de casas de madeira e cobertas de folhas de carnaubeiras, casas
típicas de beira mar , paramos para pegar água nossos galões estavam vazios e
naquela bica tinha muita gente e tanto gritar, estava com sede e quando fui
beber ela estava salgada, já tinha sido atingida pela tormenta do mar.
Nisso o veículo começou a cair em uma
ribanceira, onde saí correndo para juntar novamente as pessoas eu gritava
brandamente para Camille, para aguentar firme e com minha ajuda a escalar a
montanha, para fugir do horror que se aproximava e tinha que ser o mais rápido
possível, tinha de cinco crianças mas era muito difícil a salvar todas. O
barulho aumentava era ensurdecedor, havia um estrondo no fundo do vale, quando
a onda atingiu a praia, dava medo, estávamos vivos e tínhamos a necessidade de
correr, correr e sempre correr, não tinha nada a fazer senão correr, daquele
terror que se aproximava, o céu escureceu, ficou tenebroso e tudo estava se
acabando. Um lugar lindo, feito de areia tão branca, águas tão azul, pessoas
tão feias, coisas tão frágeis, mas humanas, meigas e de simpatia de fazer
inveja, eram felizes e que de repente tudo se modificou, a natureza é
implacável não respeitava aquilo que era bonito e puro. A situação estava fora
de controle, só Deus salvaria aquela família e pessoas que estavam naquele
lugar. A onda de cor cinza escura me atingiu quando eu estava quase no topo da
montanha, com o impacto jogou-me para o alto como fosse uma pena e fui
deslizando por cima dela como uma prancha
atravessei a colina flutuando e
caí num desfiladeiro agarrando nos topos dos pinheirais que foram se dobrando
com o impacto das águas revoltas e fui caindo como uma pluma que estava voando
e se via tudo lá de cima em uma descida íngreme
apoiando nos arbustos para se salvar.
Tudo se apagou, foi destruído, tive um
lapso de memória, um silencio e quando recobrei a consciência estava em uma
planície que simplesmente estava destruída, havia somente barro que no meu
andar atolava até aos joelhos, não tinha noção onde estava, perdi o prumo e não
sabia em que direção a domar, não sabia
para onde era leste, oeste, norte ou sul, tudo se havia modificado. Comecei a
olhar em volta para descobrir e procurar algo com vida, a família e a Camile,
a garota que eu já havia me apaixonado, pelo menos ela havia de sobreviver,
pelo menos teria alguém para poder continuar a querer e agarrar a minha
sobrevivência, pelo menos ela me faria companhia pela toda minha vida.
Comecei andar sem destino e de
repente, do nada, encontrei aquela jovem do balão, mas era a minha adorada Camile,
como fiquei feliz, diante daquela meiga menina meu coração voltou a explodir de
alegria e felicidade, mas ela estava tão linda, tão diferente, toda vestida de
azul, com golas e colarinhos de renda branca, o vestido era longo, seus olhos
brilhavam intensamente, seu rosto se transformara, suas lesões no rosto haviam
desaparecido, sua face era meiga e radiava esperança e que nada havia
acontecido, simplesmente era um anjo e quando cheguei perto a luz que irradiava
em torne dela, penetrou-me, abracei-a e chorei, chorei de tudo, chorei de
alegria, chorei daqueles que se findaram pelas veredas da natureza, como uma resposta e um sinal que ela tem
vida, tem força, tem poder e quer também
sobreviver. Camile pegou na minha mão e começamos a caminhar, sem qualquer
direção, procurando um lugar de sossego e muita fartura e felicidade, em volta
estava tudo destruído andávamos, pela lama onde anteriormente era tudo lindo e
se havia curvado diante de tanta destruição, disse ela que nosso destino era
para o norte e lá encontraríamos a felicidade, o caminho seria difícil, mas
havia esperança e lá que haveríamos de encontrar. Nisso já era o inicio da
tarde, o sol apareceu e tudo começou de novo, começou a florescer o campo, as
arvores começaram a aparecer o céu ficou azul e a brisa roçava nos nossos
rostos e no horizonte o sol começa a desaparecer nos meio das montanhas
brilhando a terra de ninguém. O choro pode durar uma noite, mais a alegria
chega ao amanhecer, acordei seis horas da manhã, final de outono, as noites são
longas e o sonho é interminável, nisso já havia escrito essas palavras. O dia amanhece
lindo, estou vivo, abri a janela e olhei para a luz do sol, fria, nas arvores
em volta da casa, onde tem algazarra e cantos dos pássaros e comecei a tomar um
café e ainda pela janela olhei em direção de minha casa e verifiquei que não
era de areia, era o lugar que vivo desde criança, por mais de 40 anos, bem
sólida e que muitas historias haviam ocorridos e lugar de muita beleza. Escutei
e vi meus filhos Miguel (10.a),
Rafaela (10.a) e Mariana (16.a) indo para escola, eram as três crianças do meu
sonho, que também estavam naquela praia,
eram elas que eu tinha que salvar e levá-las para o topo da montanha, livrar-se
da onda gigante, maldosa que destrói tudo que está em sua volta e na sua
frente. Nisso minha “cadela” Lilica roçou a porta com seu focinho e patas
querendo entrar, entrou e saltou com suas patas pesadas no meu peito, com seu
jeito de cumprimentar. Não deu para abanar a mão dando um “tchau” para minhas
crianças , elas não estavam me vendo, estava dormindo na casa de minha mãe e da
janela observava tudo o que ocorria naquela manhã de outono do ano de 2003.
Elas sabem que estarei sempre do seu lado para ajudá-las a caminhar talvez com
dificuldade, mas com a vontade e ensinamento para que elas sigam a trilha do
bem. Camile para mim era o anjo do meu sonho que estava do meu lado para
ajudar a sobreviver das angustias e tristezas que estava passando, tentando
sobreviver da escuridão dos pesadelos e percebi que tudo aquilo de bonito e
triste, nada mais foi que um SONHO.
Esta história foi escrita por mim, no dia 11/06/2003, depois
que acordei às 03h30min horas da madrugada e terminei às 06h00min horas da
manhã.
Nota:- no dia 26/12/2004, madrugada
depois de Natal, ocorreu um maremoto na região da Ásia do hemisfério norte, uma
onda gigante denominada Tsunami destruiu e matou centenas de pessoas em várias
ilhas e costa de vários países. O meu sonho ocorrido foi idêntico o que
ocorreu. Falei desse sonho para varias pessoas e amigos, Toninho (castro) seu
irmão Fred, falei com um grupo de teatro (Shirlei) e balé (professor da Rafa)
que ia elaborar uma peça sobre tal sonho que estava em minha mente e havia
escrito e por várias outras pessoas que no momento não recordo. Fica gravado,
além desse sonho tenho muito outros que escrevi e vou deixar nos meus
documentos e na minha História.
Mirandópolis-SP. 03/01/2005
– Oswaldo Resler – Dinho.
Texto corrigido por “Fred” Jânio.(https://www.facebook.com/fred.souza.169)